O câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres em todo o mundo. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2021, estima-se 66.700 novos casos, e uma mortalidade de aproximadamente 18.500 mulheres.
São vários fatores que aumentam o risco da doença. A idade é uma das mais importantes causas: cerca de quatro em cada cinco casos ocorrem após os 50 anos. Obesidade, sobrepeso após a menopausa, sedentarismo, consumo de bebida alcóolica, casos de câncer na família são outros fatores que merecem atenção.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que a obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso e mais de 700 milhões, obesos. Um dado chama a atenção: de acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 53% da população brasileira está acima do peso. Outro fator preocupante é que, até 2025, o Brasil terá 29 mil casos de câncer relacionados à obesidade, segundo um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A obesidade contribui para maior prevalência do câncer de mama, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O crescimento de pessoas com sobrepeso tem sido gradual com o passar das décadas.
A obesidade de maneira geral é uma grande preocupação, pois quando o indivíduo está com excesso de peso ele pode desenvolver inúmeras doenças, desde cardiopatias até o câncer. O tecido adiposo não acumula apenas adipócitos, mas outros subtipos celulares capazes de transformar o corpo em um microambiente favorável ao aparecimento do câncer. Nas mulheres pós-menopausa, esse tecido gorduroso é capaz de produzir estrógenos numa fase de vida em que deveria ter redução da carga desse hormônio, favorecendo tumores como os de mama e o de endométrio.
Vários estudos demonstraram que a obesidade abdominal (maior concentração de gordura no abdômen), leva a um maior risco de desenvolvimento de vários tipos de câncer, dentre eles, o câncer de mama. Tal fato ocorreria por diversos fatores, mas principalmente pelo excesso dos níveis de insulina. Este depósito de gordura faz com que o hormônio fica mais resistente e, dessa forma, há uma necessidade de aumento dos seus níveis. Dessa forma, aumenta o risco de câncer de mama.
Um dos principais hormônios produzidos pelo tecido gorduroso é o estrógeno, hormônio intimamente ligado a alguns tipos de câncer de mama. Durante a vida fértil, o hormônio tem sua produção equilibrada e é feita pelos ovários. Já na menopausa, há uma queda nos níveis do estrógeno, que param de ser produzidos nos órgãos sexuais femininos.
Porém, quando a mulher está acima do peso, neste período, o tecido adiposo se encarrega de produzir o estrógeno, que em excesso, pode provocar a multiplicação celular do tecido mamário, causando o câncer. Estima-se que as mulheres obesas têm 20% de chances a mais de desenvolver o câncer de mama no período logo após a menopausa quando comparadas com as que se encontram dentro da faixa normal de peso.
Vários estudos foram feitos. Um deles, realizado com 350 mil mulheres, mostrou que a probabilidade de desenvolver o câncer de mama aumenta nas mulheres com o índice de massa corpórea (IMC) maior. Outro estudo, realizado na Dinamarca, considerado o maior do mundo, acompanhou 18.967 pacientes de câncer de mama e constatou que mulheres na menopausa, com IMC maior que 30, apresentaram tumores maiores, mais agressivos e com comprometimento mais extenso dos linfonodos da axila.
Além disso, o risco de metástases em órgãos distantes teve relação direta com o ganho de peso: 10 anos após a cirurgia, mulheres acima do peso apresentaram mortalidade 46% maior quando comparadas às mulheres com peso normal.
Nas mulheres obesas temos inúmeras alterações no organismo e estas podem, por sua vez, afetar o prognóstico do câncer de mama. Há um aumento dos níveis de estrogênio circulante. Dentro dos adipócitos existe uma enzima denominada aromatase, que é responsável pela conversão de androstenediona em estrogênio, logo, mulheres obesas em menopausa têm uma sobrecarga de estrógeno em tecidos sensíveis a esse hormônio, como o é o tecido mamário e uterino, em uma fase de vida em que eles deviam ter seu nível diminuído, e isto se relaciona ao risco aumentado em 1,5 de câncer de mama e 3,5 de câncer de endométrio nestas mulheres.
A obesidade se mantém como fator desfavorável também durante o tratamento e como determinante do prognóstico dos pacientes que sobreviveram ao câncer. O tratamento da paciente obesa se torna mais complicado do que o da paciente com peso ideal, uma vez que os regimes quimioterápicos têm suas doses calculadas com base no peso e altura da paciente, e na obesa as doses mais altas incorrem em toxicidade maior, principalmente medular, por vezes atrasando ciclos e por vezes demandando ajuste para doses menores de quimioterápicos. A obesidade traz diversos malefícios para a saúde. Os pacientes que sobreviveram a um câncer devem se preocupar com a balança, porque um peso elevado após o tratamento é proporcional a uma maior chance de recidiva do tumor.
Dessa forma temos que uma das formas de prevenir o câncer de mama é através da prevenção da obesidade que esta diretamente relacionada ao sedentarismo. O tratamento da obesidade deve se iniciar na infância. O hábito alimentar se desenvolve nas primeiras fases de vida do ser humano, e fica mais difícil modificá-lo na vida adulta. A mudança de padrão de vida conduz ao segundo plano a busca em consumo de alimentação balanceada e mais saudável, favorecendo alimentos muito processados, com sobrecarga de alguns elementos em detrimento de outros. A modernidade nos trouxe benefícios, com facilidade de execução de tarefas, que outrora demandavam maior esforço físico e gasto de energia, e isso vem favorecendo o sedentarismo, outro aliado dentre os fatores que vêm conduzindo a humanidade à obesidade e consequentemente às suas várias doenças correlacionadas